terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uma visão da mulher segura e da mulher insegura

 [Mulher. Comportamento. Comparação. Machismo. Transformação]

Resumo. Não é possível que todos sejam iguais e não se possa tratar conjuntos estanques de personalidades, como fortes, fracos, seguros e inseguros, ainda que com as relativizações metodológicas aplicáveis às espécies. Patrulhar-se as diferenças, ainda que genéricas, sob o argumento de que todos são (têm que ser) iguais, é uma mentira que vem se sustentando. Nem na biologia, em espécie, nem na antropologia, nas gentes, pessoas são iguais. Então diferenças óbvias há e podem ser agrupadas.

Introdução. Define-se o tema como uma visão possível e pessoalizada da mulher considerada segura e da insegura, tomando-se por segurança uma estrutura pessoal ligada essencialmente à inteligência, à leveza das ações e reações rápidas e encantadoras, à sagacidade, à firmeza das decisões. Delimita-se o tema na mulher urbana do grande centro, mais consideravelmente o eixo Rio-São Paulo, principalmente a que tem qualquer tipo de visibilidade, como trabalho, inserção social, bom nível cultural etc. Importância do tema, como é tratado aqui, quase nenhuma, salvo para uma ou outra mulher que se interesse pelas conjecturas que são postas para um início de reflexão. A definição dos termos empregados apresenta uma dificuldade no tocante ao conceito de “segurança”, valendo essa ressalva apenas como registro metodológico no sentido de que sua incompletude temática e instrumental é sabida; segura e insegura pode ser qualquer mulher, a mesma, em momentos determinados da vida humana, mas aqui busca-se a aplicação numa constante da personalidade à qual o fator da segurança ou seu contrário será uma tônica mais permanente numa mulher assim ou assado. A metodologia empregada é a da produção solta, atrelada unicamente a conceitos, valores e juízos do autor, com a irresponsabilidade metodológica ou endogenamente temática no trato de palavras, construções semânticas e conceitos.

Falar da mulher segura ou insegura talvez seja mais apropriado do que falar do homem. Em razão do machismo, o homem foi mais habituado a ser cobrado do que a mulher, ter que produzir, sustentar a família, ser o mantenedor. Não que isso, por si só, outorgue qualquer privilégio ao homem, mas por esse costume a mulher pôde ou teve que ficar mais na retarguarda, mais a reboque do homem. Esquecendo o homem, a análise interna entre a mulher segura e a mulher insegura parece ser de todo interessante. Uma primeira observação que cabe é acerca do patrulhamento sobre o método de comparação, no sentido de que não se pudesse estabelecer a antagonização entre segurança e insegurança aplicada à pessoa, porque a pessoa recepciona outras análises como emoção, intuição, momento de reação, inteligência, estado de espírito, educação, cultura e parâmetros biológicos que simplesmente poderiam mascarar a análise ou a leitura de o que possa “ser” uma mulher segura ou insegura. Mesmo assim, guardadas as proporções da falibilidade do método, e sabendo que áreas outras o utilizam normalmente, como a biologia, a filosofia etc., são totalmente válidas comparações e enfrentamentos conceituais, não necessariamente em forma de díades, mas em planos semânticos, até para que a um conceito simples e direto. Nas colunas abaixo, no lado esquerdo está um menu de meros indicativos da mulher segura, contrapondo-se ao lado direito, não num antagonismo direto e formalista, mas semântico e filosófico.


Mulher segura                                                        mulher insegura
Comissiva                                                                 não quer incomodar
Age                                                                           circulariza o fazer
Inteligente                                                                 prefere concordar por subserviência
De gozo audível                                                       contorce-se com pudor
Engole                                                                       nem cogita
Abocanha                                                                 precisa combinar
Vira e se revira                                                         espera o parceiro
Não tem lugar próprio                                            “aqui não fica bem”
Gargalhativa                                                             cerimoniosa
Social                                                                        espera alguma autorização
Questiona                                                                 responde
Rápida                                                                       receosa
Ilimitada                                                                    com um menu próprio de pudores
Descolada                                                                 essencialmente chata
Pode estar sem esmalte                                          “a aparência é tudo”
Dirige silenciosa e invejavelmente                        usa a buzina para reclamar a cada esquina
Bebe de bambear                                                      bambeia por si só
Pode declarar um ciúme infernal                            prefere chorar ou desistir
Pode falar palavrão                                                  não comete esta “falta de educação”
Fica puta                                                                    fica nervosa
Decide                                                                        é escapista
Sabe que a manha do filho é detestável               vai ao psicólogo; procura saber como educar o filho
Negocia                                                                     cumpre
Enfrenta se precisar                                                 evita entrar no assunto
“se acha” e sabe que roupa usar                            pergunta às amigas
Aconselha as amigas                                                não sabe se vestir
Identifica inteligentes e burr                                    para ela “todos são iguais”
Ousa                                                                            segue
Inventa                                                                        copia
Fecha questão                                                           adia
Não tem tabus                                                            tem assuntos que “prefere não comentar”
Aguenta ouvir                                                            é escapista
Exige muitos itens daqui para se achar segura      se apega a 2 ou 3 itens do outro lado que coincide com ela e se acha segura

A mulher segura é um espetáculo, divertida, alegre, risonha, gargalhativa, sacana, sinérgica, ágil, vive rodeada de pessoas que fazem questão de sua companhia, é uma líder nata, convidada para todos os eventos possíveis precisa racionalizar aonde ir. Esta mulher eventualmente pode criar caso e brigar, invariavelmente com explosões sonoras encantadoras a um observador atento. No plano da traição a mulher segura parece ser mais confiável que a mulher insegura, porque a destreza enquanto componente natural ligado à sua personalidade a torna firme, ela não precisa provar nada, nem para ela nem para o parceiro, nem para amigos ou amigas. Como sua personalidade é uma imanência, suas amigas deverão, por ordem natural das coisas, ser menos seguras do que ela, não porque ela escolhesse mediocremente pessoas inferiores, mas porque esta mulher poderosa não chega a ser rara, mas não é a comum. Na comparação com homens, ela também ultrapassará facilmente a personalidade masculina comum, só se “curvando” a um homem ou uma mulher efetivamente dotado de inteligência e genialidade em termos de segurança e comportamento reconhecido por ela, o que não será algo fácil de encontrar.

Quanto à beleza (aparência, estética) a mulher segura se torna linda, encantadora. Seu discurso é vivo, sua fala é suntuosa e sua conversa é hipnótica, ela tem seguidores e há o encanto genuíno e não forçado nela. Um questionamento interessante é se saber se a mulher pode “se tornar” segura. Sem invocar um cartesianismo na possibilidade da mudança decidida de comportamento ou um atrelamento biologista que impusesse cada um ser “como é”, acredito firmemente que a observação aliada à comparação podem fazer de uma mulher considerada insegura, uma mulher segura. Mas o caminho talvez seja longuíssimo e necessite de um “fiscal” externo para orientação, apenas no sentido de ver mudanças e avaliar sem o emocional envolvido. Uma das reações bastante comuns em mulheres inseguras é bater no peito e “anunciar” como uma moldura de personalidade: “alto lá, eu sou segura! Quando eu resolvo ser eu sou”. A mulher genuinamente segura jamais “precisa” dessa formalização, desse anúncio, dessa moldura. Ela simplesmente exala graça, poder, brincadeira, rapidez, humor, carinho e principalmente densidade em tudo que faz. Isso parece ser importante num “projeto” pessoal de obtenção de segurança e aí se encaixa a figura confiável e amiga de um agente que conheça o que é ser uma mulher segura, para ir avaliando, passo a passo, as transformações. Esse tipo de “receita” costuma não funcionar. Não há persistência suficiente pra isso, o tal agente externo tem seus interesses. Um profissional “psi” costuma utilizar clichês do mundo secreto da psicanálise cobrada (grana) o que torna a questão suspeita em termos de tempo, amizade etc., sem se falar que o mundo psi enfrenta o problema do cinismo interno da sua validade, conforme nos aponta Lou Marinoff, na obra Mais Platão e menos prosac (é estarrecedor o que se lê ali). Mas com todas as dificuldades da “transformação” (palavra odiosa) da mulher insegura numa mulher segura, particularmente acredito que isso seja possível, inclusive pela formação acadêmica, escolha do curso superior ou mesmo técnico, ambiente social, escolha de amigos e figuras para um sólido círculo de amizade e companheirismo.

Será muito fácil e simplista atacar [primariamente] a possibilidade de mudança pessoal, dizendo que isto é um absurdo, uma violência, uma imbecilidade. Mas cada um acredita no que quer e gosta. Pessoas, homens ou mulheres, há que são seguras e outras que são inseguras. Buscar uma melhora é sempre algo louvável. O clichê de que ninguém muda ninguém, ou ninguém faz a cabeça de ninguém é de uma bobajada total, oriunda de um fixismo personalista como se o ser humano não fosse dotado de vontade, raciocínio, destreza e detalhismo. Várias coisas nos qualificam como humanos, seja a possibilidade de melhorar mais e mais a ferramenta, seja a possibilidade de identificar o erro e criar soluções geniais para ele. A pessoa mais segura do mundo terá seus momentos de insegurança, e a leoa mais tímida e acanhada se tornará uma verdadeira leoa se alguém mexer em sua cria. Extremos há que são percebíveis, ainda que eles possam não representar um tônus de segurança ou insegurança como padrão. Mas que uma mulher segura é um espetáculo, isso é. Um brinde à melhor invenção do mundo, disparado: a mulher. (ainda sem revisão). Jean Menezes de Aguiar.

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